1
Sentaram-se no terraço, ele acariciava suas mãos e a olhava fixamente, direto na alma. Seus cachos emolduravam magnificamente o rosto pálido e magro. Ele sussurrava algo apenas com os lábios, mas Lisa não conseguia entender, embora o observasse atentamente. Quem diria, nunca imaginou que observar gestos tão simples lhe traria tanto prazer.
Cada movimento de Leonardo, seus toques, despertavam nela uma onda de emoções até então desconhecidas.
Não era nada parecido com a paixão pura, nem com o desejo, muito menos com o amor...
Estavam juntos há muitos anos e compartilhavam tudo, como se nunca tivesse havido nada entre eles.
Era o final de agosto e estavam se despedindo com muita emoção. Puxando o colarinho do casaco dela, ele se preocupava se algo entre eles não estivesse certo. Pelo menos era isso que dizia.
E dois meses depois, em um frio dia de outubro, o casal se abraçava como se nada tivesse acontecido, aquecendo-se mutuamente com beijos.
Assim, quase sem perceber, passaram-se nove anos.
E hoje, mais uma vez, estavam sentados juntos na casa dele, mesmo que apenas alguns dias antes ele tivesse afirmado que nem eram amigos.
Desde que ela se lembrava, Leonardo sempre foi assim – distante, misterioso... e muito atraente.
Ela tinha dezessete anos quando se conheceram, e naquela época a paixão entre eles era intensa. No início do relacionamento, estavam tão ocupados em satisfazer suas próprias necessidades que não conseguiam pensar um no outro.
Ainda assim, se atormentavam maravilhosamente com ciúmes, jogos psicológicos e outras bobagens desse tipo.
Mas os anos passaram e a paixão se acalmou.
E hoje, novamente, estavam sentados calmamente conversando, como dizem, sobre nada e tudo.
Nesses nove anos, Leonardo, naturalmente, havia mudado muito – as têmporas estavam salpicadas de grisalhos e o rosto marcado por pequenas rugas... mas aqueles olhos... ah, aqueles olhos negros...
Lisa os olhava e se derretia, como da primeira vez que se encontraram. Que sensação estranha, ele não fazia nada, apenas estava sentado em frente a ela.
– Meu...
Enquanto isso, Leonardo se aproximou mais. Abraçando-a pelos ombros, ele inalou o perfume dos seus cabelos e fechou os olhos.
– Seu. Vem cá.
Com essas palavras, Leonardo se aproximou dela com o corpo todo e roçou suavemente seus lábios em seu pescoço.
Mais uma vez, Lisa cedeu às suas carícias. Ah, ele sabe bem o que a enlouquece e se aproveita disso sem nenhum pudor.
– Quando você vai?
– No fim de semana.
Então, Leonardo se aproximou novamente e olhou diretamente nos olhos de Lisa:
– Você vai sentir minha falta, não é?
Na voz dele misturavam-se ansiedade, tristeza e uma certa curiosidade.
– Claro, claro que vou sentir sua falta, – apressou-se em tranquilizá-lo Lisa, abraçando-o pelo pescoço. Acariciando gentilmente sua bochecha, ela se pegava pensando repetidamente que, mesmo que lhe oferecessem uma grande quantia de dinheiro para se separar de Leonardo, ela nunca aceitaria. Apesar de tudo o que ele tinha feito.
Não que ela tivesse esquecido de tudo, mas ela desfrutava tanto da presença de Leonardo que era difícil abrir mão dessa "presa" tão esperada.
Naturalmente, ele já havia viajado a trabalho antes, mas desta vez Lisa sentia muito mais intensamente a separação iminente, pois Leonardo não ia partir por uma semana, como de costume, mas por um mês inteiro.
O jovem a distraiu com um longo beijo e depois a olhou intensamente nos olhos.
– Prometa que vai sentir minha falta.
2
O monótono som das rodas nos trilhos o fazia adormecer.
Leonardo tinha pela frente uma semana agitada, com um negócio muito importante que, se fechado, o levaria a um novo patamar. O homem estava preparado para uma rotina tão intensa.
Naturalmente, Leonardo sentia uma falta enorme de Lisa, lembrando-se de seu sorriso, de seu olhar quente e carinhoso, e daqueles toques quase imperceptíveis que o enlouqueciam...
Olhando para as paisagens que passavam rapidamente, Leonardo se culpava pelos eventos do passado distante.
Lembrava-se de como viu Lisa pela primeira vez em um dos clubes, onde ele e seus amigos haviam ido por puro tédio.
De repente, notou uma garota magra de cabelos castanhos claros que havia chegado com uma amiga.
Naquele momento, não levou a sério aquela garota – pensou: "apenas uma qualquer, insignificante, sem graça, nada como Olga, com quem ele estava na época". Olga era uma mulher dez anos mais velha que Leonardo, astuta, e foi exatamente isso que atraiu o jovem. Ela era uma empresária muito bem-sucedida.
Leonardo, com seus vinte e três anos, estava nas nuvens de felicidade e orgulho por uma mulher assim ter notado ele! Que coisa incrível, todos ficariam com inveja! Justamente Olga! E, naturalmente, o rapaz se sentia imensamente lisonjeado pela atenção de uma mulher adulta e experiente.
Ele adorava, acima de tudo, acordar e observar Olga em frente ao espelho, enquanto ela penteava seus longos cabelos ruivos, que se enrolavam levemente por causa da umidade. As noites com ela sempre deixavam uma impressão inesquecível em Leonardo.
Seis anos se passaram assim... E se, no início, o relacionamento parecia um conto de fadas, com o tempo a dura realidade aniquilou a alma de Leonardo.
Quando se casaram, Olga logo deixou a empresa, preferindo criar um ambiente aconchegante em casa e criar os filhos, que certamente viriam dessa união.
Mas os anos se passaram e os filhos não vieram. Cinco anos de tentativas, acompanhadas de incontáveis testes e visitas médicas, finalmente se transformaram em brigas domésticas com insultos mútuos e pratos quebrados.
No final, Leonardo se lembrou daquela garota insignificante, cujo número ele pegou rapidamente e enfiou em algum lugar no bolso interno da jaqueta de couro.
Naturalmente, ele já a havia lembrado de sua existência periodicamente com mensagens enigmáticas, deixando Lisa dias tentando entender o que seu amado queria dizer.
Mas seu amado, depois de descarregar o estresse ou a negatividade, voltava para Olga e seu regime habitual de existência. E o que pensava aquela garota tímida – mas quem realmente se importava?
Então vieram tempos difíceis com Olga e, finalmente, o divórcio como um raio em céu claro – descobriu-se que, nos últimos meses, Olga havia traído impiedosamente seu jovem marido e, no final, anunciou que estava grávida.
Além disso, declarou categoricamente que, como Leonardo não conseguiu lhe dar a alegria da maternidade, ela ficaria com quem conseguiu. Chocado com essa reviravolta, ele passou alguns dias em um estado de total prostração, mas depois se recuperou, pensou que tudo havia acontecido para o melhor e aceitou o divórcio.
Ele estava novamente livre e incrivelmente atraente para as mulheres. Os negócios da empresa iam de vento em popa, e isso o deixava muito feliz.
Talvez por tédio, ou por hábito, ele continuava a ligar para Lisa, levando-a periodicamente para encontros, durante os quais eles geralmente passeavam de mãos dadas pelo parque. Às vezes, tomado pela emoção, ele a beijava, mas quando ela timidamente perguntava o que havia entre eles, Leonardo habilmente mudava de assunto para algo mais seguro.
E agora, depois de uma boa década, ele se sentia incrivelmente envergonhado por tudo o que Lisa teve que suportar por sua causa.
3
Enquanto isso, Lisa não tinha muito tempo para se aborrecer.
Imersa no trabalho, passava dias inteiros no escritório, focada em um novo projeto.
Uma manhã, após uma reunião, ela estava fumando com um colega fora do escritório. De repente, o telefone vibrou e na tela apareceu "Oi, querida, sinto tanto a sua falta. Não vejo a hora de voltar para casa!"
Lisa deu mais uma tragada e olhou para o céu.
As lembranças a levaram de volta ao tempo em que sofria terrivelmente pelo amor não correspondido de Leonardo e não entendia o que havia entre eles.
Ela nem pensava em vingança ou em fazer outras maldades, apenas agora, depois de tantos anos, ela não sabia mais como reagir corretamente às palavras e ações de Leonardo.
Por isso, permanecia em silêncio e, a cada vez, pensava longamente sobre o que responder a ele, que era ao mesmo tempo seu amado e um perigo.
Ir embora, simplesmente, ela não queria.
Sem abrir a mensagem, Lisa colocou o telefone de volta no bolso do seu casaco azul escuro.
Leonardo entendia perfeitamente que, depois de tudo o que havia acontecido entre eles, ele deveria deixá-la em paz. Mas os sentimentos eram mais fortes.
Ou, pelo menos, era o que ele pensava.
Com tristeza e esperança, ele verificava as mensagens, mas tudo em vão: não lida. Nenhuma resposta.
Deitado na cama, Leonardo olhava mais uma vez para a tela do celular.
Não lida. Nenhuma resposta.
Uma inquietação indefinida se insinuava em sua alma. O que poderia ter acontecido? Por que ela ainda não respondeu nem ligou?
Ele se levantou da cama, vestiu as calças jeans e saiu para o terraço, enquanto digitava o número de Lisa.
– Tuuu... tuuu... – os longos sinais de chamada ainda davam esperança de que sua amada ouvisse o telefone e que a conversa acontecesse.
– Alô?... – o sussurro de Lisa rompeu o silêncio como uma lança, – ah, é você...
– Finalmente, – suspirou aliviado Leonardo, – você está bem?
– Desculpa, querido, estou tão cansada por causa do trabalho que esqueci completamente da mensagem, cheguei em casa e desabei na cama. Está tudo bem, e com você?
– Tudo ótimo, meu doce, eu só estava muito preocupado... Não desapareça assim de novo, ok?
– Tudo bem, – Lisa riu baixinho do outro lado da linha, – não se preocupe. Estou morrendo de sono, falamos amanhã, certo? Boa noite, beijos...
– Eu também, – Leonardo estava prestes a responder, mas do outro lado da linha só se ouviam os sinais de ocupado.
Aliviado, Leonardo voltou para a cama e adormeceu instantaneamente.
4
Na verdade, a única coisa que Leonardo realmente desejava era que Lisa finalmente acreditasse em suas intenções sinceras.
Apesar de ele acreditar nas próprias mudanças, na realidade, ele continuava sendo o mesmo, uma pessoa completamente estranha para Lisa.
É por isso que a tensão entre eles era tão forte que se podia cortar com uma faca. Esses altos e baixos constantes: às vezes Lisa o recebia com entusiasmo, pulando em seu pescoço após uma longa viagem de trabalho; outras vezes, era indiferente, como se eles se conhecessem há apenas alguns dias.
Lisa sabia o quão tóxico era seu comportamento, mas não conseguia fazer nada para mudar e nem queria. Ela estava tão acostumada às provocações e zombarias de Leonardo que, mesmo agora, quando ele estava realmente sério e mostrava suas intenções sinceras, ela se assustava com suas demonstrações de honestidade.
Além disso, Lisa simplesmente sentia que uma pessoa não podia mudar tão radicalmente.
Por um lado, ela ainda era a garota apaixonada, disposta a seguir Leonardo até o fim do mundo. Mas, por outro lado... Ela sempre achava que o conto de fadas estava prestes a terminar e o velho Leonardo voltaria, aquele sarcástico e cruel, que no fim a usava! Esses pensamentos faziam Lisa se sentir tão mal que ela começava a apagar qualquer sentimento caloroso que tinha por seu amado. Contudo, partir parecia uma escolha totalmente inaceitável.
Tudo isso parecia um ciclo vicioso e desgastava o casal, mas eles estavam tão apaixonados que nenhum obstáculo evidente poderia detê-los ou ao menos fazê-los refletir. Deveriam se separar, parar de se torturar... mas não...
Enquanto isso, Leonardo estava extremamente satisfeito com a reunião com os parceiros e decidiu ir ao restaurante mais próximo para comemorar o sucesso do acordo.
Enquanto esperava o pedido, Leonardo bebia uísque e escrevia um SMS para sua amada:
"Querida Lisa... já passou da meia-noite e provavelmente você está dormindo, mas não consigo esperar para compartilhar! A reunião correu bem, estamos muito satisfeitos! Agora vamos jantar e depois vou descansar. Sinto muito a sua falta! Te ligo amanhã. Boa noite."
Relendo o texto mais uma vez, Leonardo apertou o botão "enviar" e, em seguida, se juntou aos parceiros, brindando com os copos para celebrar o acordo bem-sucedido.
Enquanto isso, Lisa já estava no décimo sonho quando o celular começou a vibrar no escuro.
Entreabrindo os olhos por causa da luz forte, a garota levou meio minuto para enxergar o que estava na tela e então leu o SMS.
Um leve sorriso surgiu nos lábios de Lisa.
"Você sente minha falta, hein... que agradável."
"Parabéns pelo sucesso do acordo! Boa noite. Beijos."
5
No dia seguinte, descendo para o saguão do hotel, Leonardo inesperadamente encontrou Olga.
Sua ex-esposa, seu segredo, seu maior arrependimento – por ter prometido fazê-la feliz e não ter conseguido. Claro, ele ainda lembrava da traição dela, mas com o passar dos anos as emoções se acalmaram, e Leonardo sentia principalmente a responsabilidade pelo fracasso do casamento.
Reuniu coragem e disse:
– Olga, que encontro inesperado. Fico feliz em te ver.
Arregalando os olhos azuis de surpresa, Olga afastou uma mecha de seus espessos cabelos ruivos e olhou para ele espantada:
– Oh, que surpresa! Não nos vemos há séculos! Reservei uma mesa no restaurante, me acompanha?
Ela se dirigiu para a mesa, e Leonardo se juntou à sua ex.
– O que está fazendo aqui? – perguntou Olga, tomando um gole de uma bebida tônica.
– Tive uma reunião importante aqui, – sorriu Leonardo, – e você, o que te traz aqui?
– Ah, você não vai acreditar! – disse ela, olhando sonhadora para o alto, – aconteceram tantas coisas! Resumindo, abri minha própria empresa! Como eu queria! E também estou aqui a negócios.
– Olga, – disse ele, abaixando o olhar, – posso te pedir um favor?
– Que tipo de favor? – perguntou a ruiva, olhando com interesse para o ex-marido.
– Você poderia... jantar comigo esta noite? Tenho uma reunião agora, mas esta noite gostaria de conversar mais um pouco com você.
Enrolando um cacho em seu dedo, Olga o observou atentamente:
– Bem, se eu não te conhecesse, consideraria um pedido desses extremamente rude. Mas não vejo motivos para recusar a um velho amigo.
Observando sua ex-esposa, Leonardo se perdeu em pensamentos. Naquele momento, esqueceu completamente o ambiente ao redor, Lisa, o trabalho.
Algo em seu coração tremeu involuntariamente.
Será que ainda sentia algo por sua ex-esposa? Depois de todos esses anos... não pode ser...
Leonardo tentava afastar esses pensamentos traiçoeiros.
"Maldição! Concentre-se! No que você está pensando, maldição!?"




Comments